Todo lugar tem sua história, suas lendas e curiosidades, seus fatos pitorescos e, é claro, sua gente. São as pessoas, famosas ou anônimas, que dão vida a uma cidade. Nas ruas centrais de Faxinal do Soturno, que completa 60 anos nesta terça-feira, o Diário encontrou, além de monumentos, estátuas, templos e prédios históricos, estabelecimentos e figuras populares. Não é por acaso que Faxinal já foi chamada de a Capital do Carinho.
A igreja

Foto: Pedro Piegas (Diário)
A Igreja Matriz São Roque é considerada uma das mais bonitas e simbólicas da região da Quarta Colônia. Inaugurada em 6 de janeiro de 1939, completou 80 anos no mês passado, o Jubileu do Carvalho. Além do altar principal, há os altares laterais, com imagens de vários santos, alguns de madeira. Uma das relíquias do templo é um quadro de Nossa Senhora do Rosário da Pompéia, feita em papel e restaurada por padre Roque, que colocou um molde de vidro sobre a pintura. Também trazida da Itália, essa pintura é, assim como a imagem do padroeiro, uma das mais veneradas pela população.
- Essa imagem (de Nossa Senhora da Pompéia) veio para cá, provavelmente em 1876, com os italianos - conta padre Roque, ressaltando que o nome da santa está relacionado à região de Pompéia, cidade romana destruída por um vulcão.
A rica histórica da fé católica em Faxinal gerou lendas e casos curiosos. Um desses registros diz respeito a uma tragédia familiar, envolvendo uma das famílias tradicionais na região, que remonta aos primeiros anos da imigração. O marido estava no mato, abrindo clareiras para a lavoura, quando a esposa, que estava grávida, foi levar-lhe comida e, acidentalmente, uma árvore caiu sobre ela, matando-a.
- Como não havia cemitério em Nova Treviso, as pessoas eram enterradas no mato. Então, houve uma procura muito grande para achar o corpo dessa mulher, que morreu muito jovem.
O bar e a barbearia

Foto: Pedro Piegas (Diário)
Em um prédio de dois pisos, na Avenida Vicente Pigatto, fica a Lancheria da Gema, um dos pontos de encontro dos mais antigos da cidade. O local simples, com mesinhas na calçada, funciona como bar, ao lado de um hotel da mesma família. Vende bebidas, lanches, cigarro. O estabelecimento, que leva o nome da atual proprietária, Gema De David, 82 anos, é um dos mais tradicionais de Faxinal e foi fundado pelo pai dela, Victorio, e pelo tio, Carlos, imigrantes italianos, há quase um século.

Foto: Pedro Piegas (Diário)
Quem quiser cortar o cabelo, fazer a barba ou aparar o bigode vai encontrar, logo na esquina, o Salão Pirâmide. O proprietário, Ramiro Lopes Rodrigues, 75 anos, nasceu em Caçapava, mas se aquerenciou em Faxinal há 52 anos. Moradores garantem que Ramiro é o barbeiro mais antigo, em atividade, no município, mas, quanto a esse título, ele esquiva-se.
Jardineiro e guia turístico

Foto: Pedro Piegas (Diário)
Na praça central, a Vicente Pallotti, crianças brincam nos escorregadores, balanços e gangorras sob os olhares atentos das mães na tarde de sol. O responsável pela manutenção do espaço Claudir Prestes, 50 anos, funcionário da prefeitura, conta ter descendência alemã, apesar do sobrenome português. Ele é o responsável pela limpeza, pela grama aparada e pelo jardim. Descontraído e prestativo, Claudir improvisa como guia turístico quando perguntado sobre dois monumentos da praça e outros pontos visitados na cidade. Antes, porém, ele diz que é servidor público e que não seria a pessoa mais indicada para falar. No local, há uma réplica reduzida do Columbus, o navio que trouxe os italianos do outro lado do oceano para a Região Central do Rio Grande do Sul. Não menos atraente, o Monumento ao Imigrante Italiano é uma homenagem aos colonizadores da Quarta Colônia.
Um dos últimos relojoeiros

Foto: Pedro Piegas (Diário)
Do outro lado da Praça Vicente Pallotti, a reportagem encontra um santa-mariense de nascimento e faxinalense de coração. O relojoeiro Valdenir Lucas Packeiser, 72 anos, aposentou-se no ano passado desde que o prédio foi interditado, segundo ele, por ser patrimônio histórico. Se a construção for tombada, como ele garante que vai acontecer, o mesmo não se pode dizer da profissão que escolheu há 46 anos, quando trocou o Coração do Rio Grande por Faxinal.